Hubert Gebara
Vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP
Se desejarmos saber como toda a história começou, teremos de retroceder na longa noite dos tempos. Em algum momento desse passado remoto, começou nossa história com os ancestrais de nosso cão moderno, cujos descendentes dividem conosco, atualmente, a vida dentro e fora dos condomínios. Quando tudo começou, provavelmente os lobos vieram nos rodear, atraídos pelo cheiro da carne que queimávamos em nossas fogueiras pré-históricas. Percebendo que éramos fonte de comida, passaram, com o tempo, a nos seguir nas caçadas.
Mesmo que o início de nossa relação com os cães tenha sido
exatamente assim, não sabemos como tudo evoluiu para que os pets viessem a
fazer parte de nossa moderna terapia. Talvez porque estejamos carentes e o
convívio com animais de estimação seja tido, pela medicina e pelos terapeutas,
como antidepressivo. Não estamos falando apenas de cães e gatos, principais
protagonistas dessa história de amor, mas também de roedores, aves e até
cobras. O falo é que meia dúzia de espécies vieram, ao que parece, para ficar
para sempre ao nosso lado.
Esses animais que hoje consideramos de estimação também
estão conosco nos condomínios. Já estavam quando morávamos em casas isoladas e,
provavelmente, nos seguirão para onde formos no futuro. Ao redor da mesa de
refeição, permitimos que comam nossa comida civilizada.
Nem tudo é perfeito, porém. Nos condomínios, na verdade,
existe uma relação de amor e ódio em nosso convívio com os pets. Muitos
moradores pertencem à tribo dos que não curtem os animais e gostariam de viver
sem a presença deles. Alegam que, para alguns donos desses pets, não existem
regras: cães podem andar livremente nos elevadores sociais, largar dejetos nos
jardins ou latir fora de hora. Serão sempre tratados e mimados como crianças. A
razão, como sempre, está no meio e esta é a verdadeira posição do síndico em
relação ao problema.
O condomínio tem uma convenção que não pode ser omissa em
nenhum assunto. A função do síndico é seguir essa convenção e agir caso a caso.
Não há outro modo, senão coibir os exageros que surgem de ambos os lados.
Nossa relação com os pets é antropológica, faz parte de
nossa evolução no planeta. Aprendemos muito com os animais: eles conservam a inocência
que há muito tempo já perdemos. Muitos de nós precisam deles para viver.
Acariciando seu pelo, acreditamos poder também descarregar neles nossa
frustração e solidão. Em convivência com os humanos, os pets, por sua vez,
perderam a autossuficiência e não sabem mais praticar as antigas leis da vida
selvagem. Nós os adotamos e temos agora responsabilidade total em relação a
eles. Animais de todos os tamanhos e formatos precisam de nossa proteção.
Aqueles que não os convidaram para uma vida conjunta, precisam pelo menos
tolerá-los. Mas aqueles que fizeram o convite não podem tratá-los como se
fossem crianças. É esse mimo que irrita os vizinhos da outra tribo. Mais uma
vez, a verdade está no meio.