Com robôs, só não some o ’emprego híbrido’
Leonardo Trevisan, professor da PUC
Quando chegam os robôs quem primeiro perde o emprego? A resposta pode ser tão simples quanto errada. Nos últimos 20 anos, como mostrou The Economist (de 20/01), a parcela dos trabalhadores americanos empregados em tarefas de rotina declinou de 25,1% para 21%. Ou seja, sumiram 7 milhões de empregos.
Tarefas de rotina não são apenas ocupações que exigem menor qualificação. Rotina quer dizer repetição. O que inclui classificar sempre os mesmos objetos, redigir sempre o mesmo contrato, "ler" sempre o mesmo exame, separar sempre as mesmas folhas de salada. Ou, prestar serviço sempre do mesmo modo. Tudo isso a automação já faz.
Mas o que acontece com os humanos quando os robôs chegam? Ao contrário da resposta simples, não é inevitável que o humano desapareça do cenário corporativo. Pesquisa de James Bessen (Boston University) revelou que, desde 1980, empregos nas ocupações que "usam computadores" cresceram mais do que as que não usam.
Automação quer dizer mais produtividade e menor custo e isso pode significar mais empregos não menos. Ou, setor não automatizado, diminui. A Economist mostrou: quando o computador não é algoz do trabalho humano aparece o "emprego híbrido". Este conceito demanda "nova combinação de habilidades". Nele, o humano atua como "tutor" da máquina, acompanhando ondas tecnológicas.
Produtividade cresce aqui. É esse o sentido do título do artigo da Economist: "aprendizagem por toda a vida". Quais são estas novas habilidades? Emprego híbrido quer dizer convivência amistosa com automação. Fato: nem empregadores descrevem, com clareza, o perfil dessas novas habilidades, base do emprego híbrido.
Porém, como robôs já estão na ativa faz tempo, é possível pesquisar como o emprego híbrido se consolida. Artigo do Financial Times (de Gillian Tett) descreveu como muitas pessoas trabalham com robôs em "novos papéis". No texto, a pesquisa de Benjamnin Shestakofsky, em empresa digital de serviços domésticos, revelou que o mesmo software que automatiza cria "novos tipos de emprego".
A complementaridade entre humanos e robôs já tem regras para diferentes setores de atividade. Estas regras geram as novas habilidades que alimentam o emprego híbrido, o que não desaparece quando o robô chega. Como pensar carreira nessa nova realidade? A aprendizagem por toda a vida da Economist é só o começo da resposta. E ela não é fácil. Nem tranquila.